Quarta-feira, 26 de Março de 2008
Concordo plenamente com o que estabelece o acordo ortográfico de 1990. Concordaria mesmo que o português só se falasse em Portugal. Quer isso dizer que não gosto da ortografia do acordo de 1945 e, portanto, acho excelente que o Brasil o tenha rejeitado.
Vou explicar um pouco o meu pensamento, mas antes notemos que o acordo já não está em vigor em Portugal, porque Marcelo Caetano praticamente aboliu os acentos graves, honra lhe seja feita. Também aboliu o acento circunflexo em palavras como avôzinho. O Brasil fez o mesmo um pouco antes. Isso foi combinado entre os governos de Portugal e Brasil sem a assinatura dum acordo formal. Por essa altura o Brasil introduziu um aspecto positivo do acordo de 1945 ao abolir o acento de palavras como este, pronome, para se distinguir de este, ponto cardeal.
Para mim um enorme disparate do acordo de 1945 é a manutenção de consoantes mudas, que Marcelo Caetano só não aboliu porque o 25 de Abril não lhe deu tempo. Algumas além de serem surdas são tolas. Como se justifica o cê de actual, inexactidão, actual e várias outras palavras? E o primeiro cê de accionista? Os defensores da actual ortografia não se sentem incomodados quando escrevem estes cês? Devem adorar o cê de acto. O cê não faz falta para a pronúncia desta palavra; só existe por coerência com actuar, onde é tolo. Portanto, o cê de acto é duplamente tolo. Mandá-lo para o caixote do lixo é excelente.
Considero o acordo de 1945, parcialmente em vigor em Portugal, muito mau mesmo vendo a coisa só pelo lado de Portugal. Agora vamos pôr-nos do lado do Brasil. Obrigava a introduzir consoantes abolidas uns bons anos antes. Por outro lado, estabelecia que um acento agudo poderia não significar que a respectiva vogal era aberta, mas sim que estava na sílaba tónica. Exemplificando, ténis não significava que o e era obrigatoriamene aberto, mas sim que té era a sílaba tónica. Um brasileiro poderia pronunciar ténis, mas tinha que escrever ténis. O péssimo acordo de 1945 era H-M-I-L-H-A-N-T-E para o Brasil. Estou-lhe muito agradecido por o ter rejeitado.
Resumindo: concordo com o acordo de 1990; estaria de acordo se só Portugal falasse português; acho mau o acordo de 1945 e acharia mesmo se só Portugal falasse portugês; acho este acordo, já alterado em Portugal, uma horrorosa humilhação para o Brasil.
Um acordo ortográfico para ser exequível tem de ser equilibrado e ter cedências mútuas. No de 1990 Portugal deixa de usar essa praga que são as consoantes mudas e o Brasil elimina o trema, usado em palavras como aguentar e freqüente..
Alguns indivíduos insurgem-se contra ortografias duplas previstas no acordo como sector e setor. Até parece que não temos já hoje ortografias duplas. Há montes delas como rotura e ruptura, quotidiano e cotidiano e muitas outras.
Tanto barulho por causa de coisas tão simples e evidentes! Tenho pena que não se tenha mexido no agá inicial, que os italianos mandaram para as urtigas. Como seria possível quando se faz tanto barulho por alteraçãos simples, lógicas e que há muito deveriam ter sido introduzidas!
Viva o acordo ortográfico de 1990! Os seus detractores, como os de reformas anteriores, não ficarão para a história.
Março de 2008
João Manuel Maia Alves