Sábado, 5 de Novembro de 2005
O ultimo artigo fala de esdrúxulas reais e aparentes? Quando é que uma palavra é uma esdrúxula real? Quando é que é uma esdrúxula aparente?
Uma esdrúxula aparente termina com um ditongo crescente. Um ditongo é um conjunto de duas vogais que se pronunciam numa única emissão de voz, como, por exemplo ói em dói e ão em mão. Ditongos descrescentes são aqueles em que a primeira vogal é mais saliente que a segunda. Serve de exemplo oi em moita. Nos ditongos crescentes sucede o contrário a segunda vogal sobressai relativamente à primeira.
O acordo ortográfico dá na sua Base XI vários exemplos de palavras esdrúxulas aparentes, isto é terminadas em ditongos crescentes: álea, náusea, etéreo, níveo, enciclopédia, glória, barbárie, série, lírio, prélio, mágoa, nódoa, exíguo, língua, vácuo, amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio, Amazónia, António, blasfémia, fêmea, gémeo, génio, ténue. Reparemos numa delas génio, por exemplo. Se io é um ditongo, pronuncia-se numa só emissão de voz caso contrário não era ditongo. Então nio é uma sílaba e a palavra é grave, não esdrúxula, e não deve levar acento. Na realidade, considera-se nio formado de duas sílabas: ni-o. Daqui resulta que génio é esdrúxula esdrúxula aparente, mas esdrúxula e, sendo esdrúxula, necessita de acento.
Em português para a divisão de sílabas um ditongo crescente é dividido. Domínio, por exemplo, tem as sílabas do-mí-ni-o, o que faz da palavra uma esdrúxula. Um ditongo crescente é ditongo e não é. É ditongo na pronúncia. Não é ditongo para a divisão silábica. É e não é. Confuso? Bastante, mas é como é e não tem conserto.
Esdrúxulas reais são palavras que não são esdrúxulas aparentes, como, por exemplo , matemática, que tem a divisão silábica ma-te-má-ti-ca.
Em espanhol o ditongo crescente é tratado com muito mais lógica. Não é partido ao meio na divisão silábica. Por isso, não necessitam de acento palavras como Antonio, que tem o acento tónico na sílaba to. Antonio em espanhol é uma palavra grave. A palavra espanhola policía precisa de acento porque o acento tónico cai sobre o último i.
Se seguíssemos as regras do espanhol em relação a este assunto dos ditongos crescentes teríamos várias vantagens. Diga-se, aliás, que os espanhóis souberam tomar a tempo medidas quanto à ortografia de se lhes tirar o sombrero (chapéu em espanhol para quem não saiba). Se nós tivéssemos feito o mesmo no tempo oportuno teríamos evitado muitos problemas. Veremos isso em próximo artigo.
João Manuel Maia Alves