Segunda-feira, 7 de Novembro de 2005
Vimos que o acordo ortográfico estabelece ortografias duplas para um certo grupo de palavras esdrúxulas ou proparoxítonas. Estão bem identificadas tais palavras. A antepenúltima sílaba termina em e ou o, a que segue um m ou um n. Exemplos dessas duplas grafias são: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, António/Antônio, génio/gênio.
Não existem grafias duplas para todas estas palavras. Por exemplo, temos a palavra cômoro sem que exista cómoro. No entanto, o número destas palavras é muito reduzido.
Dissemos no artigo anterior que uma maneira de evitar estas grafias duplas seria eliminar os acentos em palavras esdrúxulas, o que poderá ter levado alguns leitores a pensar que o autor perdeu a razão ao admitir uma hipótese tão absurda. Veremos que tal já foi praticado e proposto por gente ilustre.
Por volta de 1960 uma instituição de Coimbra recebia um jornal ligado a um movimento polítivo brasileiro liderado pelo escritor Plínio Salgado. Esse jornal não acentuava palavras esdrúxulas. Não recordo que acentos usava. Sei que as palavras esdrúxulas não levavam acento.
O jornal explicava a omissão de acentos por causa das polémicas de que eram alvo.
Repare-se nas frases seguintes, em que as palavras esdrúxulas se escrevem sem acento.
Antonio é um melomano. Aprecia varios generos de musica. Da musica classica gosta principalmente de opera. Também é apreciador de musica sinfonica. É coleccionador de gravações de musica folclorica.
A falta dos acentos a que estamos habituados provoca uma espécie de irritação, mas depois habituamo-nos. Era o que acontecia a quem lia o referido jornal brasileiro. Ao fim de um certo tempo quase não se dava pela falta dos acentos
Em 1967 realizou-se em Coimbra o I Simpósio Luso-Brasileiro sobre a Língua Portuguesa Contemporânea. Uma das suas conclusões foi a conveniência de se abolirem os acentos.
A oralidade precede a escrita. Por outras palavras, uma língua é falada antes de ser escrita. Para um analfabeto a língua é oralidade. Existem analfabetos que usam razoavelmente bem a língua sem a saber escrever. Há utentes da língua que não usam acentos por não os considerarem indispensáveis à leitura e à compreensão de textos escritos. É esta a argumentação que pode fundamentar a eliminação de acentos.
Continuaremos a falar da eliminação de acentos noutro artigo. Por hoje é melhor ficar por aqui porque esta matéria é de digestão difícil.
João Manuel Maia Alves