Terça-feira, 13 de Setembro de 2005
Alguns ou muitos dos defensores dos cês e pês mudos acham que tais letras se devem manter por uma questão de harmonia com outras línguas latinas. Não podiam arranjar argumento mais idiota e ridículo.
Antes do mais, a ortografia da língua portuguesa não tem que se estabelecer de acordo com as de outras línguas. Estão a ver algum espanhol ou francês a dizer que se deve manter ou abolir uma letra ou um acento por razões de harmonia com o português? Por outro lado, a ortografia do português tem uma lógica que não é mesma doutras línguas. Por exemplo, o francês segue muito de perto a etimologia; é por isso que tem muitas palavras com efes, emes e enes dobrados e com o dígrafo pê-agá como nós antes de 1911. Vamos voltar a escrever Prohibido affixar annúncios para sermos coerentes com o francês?
Em italiano o agá inicial praticamente foi eliminado. Seria uma excelente ideia harmonizar o português nesse ponto com o italiano e também acabarmos com o agá inicial. Trata-se duma opinião evidentemente não partilhada pelos defensores dos cês e pês mudos, para quem a semelhança com as outras línguas latinas só se invoca quando dá jeito.
Falando ainda do italiano, o Prof. Vitorino Magalhães Godinho afirmou não perceber a má vontade contra as consoantes dobradas, afirmando que o italiano está delas cheio. No que ao português diz respeito esse reputado professor referia-se às sequências cc e cç em que o primeiro cê não se pronuncia, como nas palavras accionista e acção. O professor mostrou não saber nada de italiano. Nessa língua as consoantes podem ser dobradas, mas isso alonga-lhes a pronúncia. Giovanni, pronunciado djòván-ni e equivalente a João, é diferente de giovani, que se pronuncia djóvani e significa jovens. Em Giovanni o duplo ene cria uma pronúncia alongada ao passo que o ene simples de giovani se pronuncia com brevidade.
Voltemos às consoantes mudas. Para sermos coerentes com o espanhol e com o francês voltaríamos a escrever diccionário, victória, accidente, producção, producto, estructura e aflicção. Alguém interessado em termos mais consoantes mudas para ficarmos mais perto do espanhol e do francês?
Projecto precisa do cê por coerência com outras línguas latinas? Em francês escreve-se projet e em italiano progetto, ao passo que em espanhol existe proyecto Para sermos parecidos com fanceses e italianos eliminamos o cê. Mantemo-lo se quisermos semelhança com o espanhol. Em que ficamos?
Objecto tem de ter um cê por uma questão de harmonia com outras línguas? Não será com o francês, em que se escreve objet, nem com o espanhol com o seu objeto nem com o italiano, em que se escreve oggetto. Talvez o cê seja necessário por coerência com o romeno, que também é língua latina; com as línguas mais próximas do português não é.
Só alguém mal informado ou cego pelo sectarismo é que pode invocar a semelhança com outras línguas para manter cês e pês mudos. Se os querem manter, arranjem argumentos inteligentes.
João Manuel Maia Alves
Segunda-feira, 12 de Setembro de 2005
Os partidários da conservação de consoantes mudas em palavras como afecivo ou baptismo dizem que elas fazem falta para abrir a vogal anterior. Tracção e acção, por exemplo, necessitam, segundo tais pessoas, do primeiro cê para se pronunciaram tràção e àção. Se é assim, por que razão inflação, com a pronúncia inflàção, só tem um cê?
Tracção e acção derivam das palavras latinas actione e tractione, respectivamente. Por sua vez, inflação vem do latim inflatione. Por aqui se vê que o cê mudo de acção e tracção não se justifica somente por questões de pronúncia mas também por motivos da etimologia das palavras, isto é a sua origem noutras línguas. Ora acontece que há muito a ortografia da língua portuguesa deixou de seguir rigorosamente a etimologia; é por isso que há muito escrevemos produto apesar de provir do latim productu.
Se inflação se escreve só com um cê, não há grandes razões para que acção ou tracção precisem de dois.
Temem alguns que da eliminação de cês e pês mudos resulte o enfraquecimento das vogais colocadas antes. Já vimos que as catástrofes que se poderiam esperar de alterações anteriores não se verificaram e não há razão para se supor que o contrário aconteça no futuro. Por outro lado, se uma vogal tiver que emudecer, não é um cê ou pê que não se lê colocado antes que vai evitar esse emudecimento. Por exemplo, em actual, tactear e exactidão o cê não evitou o emudecimento do a anterior. Por outro lado, em palavras como corar ou padeiro existe um vogal aberta sem necessidade de escolta dum cê ou dum pê mudo.
Os amantes das consoantes mudas não se sentirão um tanto incomodados ao escreverem actual. Como é que justificam o cê?
Os argumentos contra a eliminação de consoantes mudas ou contra o acordo ortográfico em geral são fáceis de desmontar com um pouco de informação e uma cabeça para pensar.
João Manuel Maia Alves
Domingo, 11 de Setembro de 2005
Sempre que há alterações ortográficas, surgem os profetas de desgraça anunciando terríveis catástrofes em consequência das novas regras. Sendo muitos professores universitários, escritores e líderes de opinião, admiramo-nos de nunca ter dado pelo seu zelo em defesa da língua, vítima constante dos maiores atropelos. A sua preocupação parece resumir-se a evitar que se ponha de lado alguma letra ou acento e não é mais do que imobilismo disfarçado de prudência.
Vejamos algumas alterações ortográficas do passado que poderiam ter tido consequências funestas.
Noutros tempos escreveu-se prègar um sermão e pregar um prego. Desapareceu o acento grave de prègar. Aconteceu alguma coisa terrível? Não. Ninguém diz em Portugal pr gar um sermão.
Desapareu o acento grave de mòlhada. Aconteceu alguma coisa grave? Não. Distingimos pelo contexto a pronúncia de molhada. Abrimos o o em tudo à molhade e fé em Deus, ao contrário do que acontece em camisa molhada .
Outros casos poderíamos apresentar de eliminação sem problemas do acento grave em jàmais, por exemplo.
Eliminámos em Portugal o trema em palavras como freqüente ou agüentar. O que é que se perdeu? Nada. É verdade que aqui há uns anos ouvimos locutores da rádio e da televisão pronunciar arguido com a sequência gui pronunciada como em guita. Ao contrário do que agora sucede, a palavra era pouco conhecida. Hoje só se ouve a pronúncia correcta.O que espanta é que não haja em estações como a RTP ou a Rádio Renascença pessoas que evitem certos erros ou rapidamente os corrijam.
Em fluidez, constituição e outras palavras a sequência ui não é ditongo. Pronuncia-se u-i. Noutros tempos colocava-se um trema sobre o i para indicar que não havia ditongo. Acabou-se com este trema. Constituïção passou a constuituição, sem se perder absolutamente nada.
Felizmente, as catástrofes previstas pelos adversários das reformas ortográficas não se confirmaram no passado e não devem ocorrer no futuro, mas podem ter a certeza que se oporão a qualquer mudança. São do contra porque são do contra. Por outro lado, certas letras que se mantiveram não conseguiram evitar aquilo que tinham por missão impedir, mas isso é assunto para outro artigo.
João Manuel Maia Alves
Sábado, 10 de Setembro de 2005
A eliminação de cês e o pês mudos em palavras como “actor” e “baptismo” deixa muito boa gente num estado de angústia, como se o mundo estivesse para acabar. A questão merece ser estudada com a serenidade que tem faltado à maioria dos críticos do acordo ortográfico e que seria de esperar em pessoas de alto nível intelectual.
Muitos opõem-se à eliminação das consoantes mudas porque são contra toda a alteração ortográfica. Numa reunião muito concorrida que se realizou em Lisboa a propósito do acordo ortográfico uma jovem senhora muito intelectual decretou que em Portugal a palavra “projecto” tem de ter um “c” . Pessoas assim são imobilistas e opõem-se a qualquer mudança. Esta senhora, se vivesse em 1910, talvez se opusesse a “lírio” em vez de “lyrio” e “abismo” em vez de “abysmo”. Por incrível que nos pareça hoje, houve quem dissesse, lá por esses anos, que sem o “y” desaparece a noção de profundidade em “abismo” e “lírio” não tem graça.
Gente há que se opõe a alterações ortográficas por achar que a que usamos atingiu um nível de perfeição insuperável. Uma escritora de reconhecidos méritos mandou dizer na citada reunião que só a palavra “dançar” precisa de correcção; deveria escrever-se “dansar”.
Tudo isto é um completo disparate e deveria constar duma antologia de asneiras. Toda a ortografia tem muito de artificial e convencional. Nenhuma é perfeita e ainda neste artigo mostraremos exemplos eloquentes de deficiências da ortografia que usamos em Portugal.
Vejamos a razão de escrevermos “ator” no Brasil e “actor” em Portugal. Em 1911 fez-se uma excelente reforma ortográfica, que, mesmo assim, recebeu os maiores insultos. Infelizmente, Portugal aplicou a reforma esquecendo o Brasil. Isso abriu a porta a alterações unilaterais nos dois países. Em 1931 os dois celebraram um acordo com um texto muito breve. Quando se chegou à altura de ser aplicado, verificou-se que havia interpretaçãos diferentes do que se mantinha e do que se abolia. Foi assim que surgiram grafias diferentes como “ator” e “actor”. Felizmente, o acordo de 1991, tem um texto detalhado que elimina ou minimiza a margem para interpretações diferentes.
Qual a justificação para consoantes mudas como em “director” ou “adoptar”? Uma das razões é que a consoante muda serve para abrir a vogal anterior. Faz de acento grave, como se escrevêssemos “dirètor” ou “adòtar”.
Se era esta a função, então falhou redondamente em palavras como “actuar”, “actuação”, “accionista”, “actuário”, “actualidade” e "exactidão". Realmente, na pronúncia portuguesa destas palavras a vogal antes do “c” não é aberta. Por exemplo, dizemos em Portugal “âtuar” e não “àtuar”.
Há aqui duas conclusões a tirar. A primeira é que a ortografia que usamos não é perfeita e, se não é perfeita, pode ser mudada. A segunda é que é falsa uma das justificações para manter consoantes mudas. Estão lá para abrir vogais e às vezes não o conseguem.
Preparem-se para ler em próximos artigos afirmações capazes de revoltar e obrigar a pegar em armas os amantes dos cês e pês que não se pronunciem.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves
Sexta-feira, 9 de Setembro de 2005
Já vimos que o acordo ortográfico elimina os cês e o pês que são mudos em qualquer pronúncia culta da língua. Para dar dois exemplos, passaremos a escrever fatura e batizar em vez de factura e baptizar.
Marcelo Caetano preparava-se para eliminar estes cês e pês que não se pronunciam. Para isso já dispunha de parecer favorável de reputados linguístas. Recorde-se que Marcelo praticamente acabou com o acento grave. O 25 de Abril impediu que ele tivesse tempo para levar avante o seu projecto de eliminação de consoantes mudas.
O acordo ortográfico que aguarda ratificação e entrada em vigor foi elaborado por uma comissão de especialistas com origem nos então sete países de língua oficial portuguesa. Salvo erro, estavam presentes um brasileiro António Houaiss - e dezanove portugueses e africanos. Da parte de Portugal participaram grandes linguístas como o Prof. Lindley Cintra e o Prof. Malaca Casteleiro, que foram tratados abaixo de cão por muitos intelectuais portugueses que se portaram como homenzitos. Infelizmente, no meio de grandes polémicas homens que pensaríamos superiores acusam muitas vezes os seus adversários das maiores infâmias. Existem numerosos exemplo ao longo da história.
Em quaisquer negociações há discussão de problemas e procura das melhores soluções. Pode ter que haver cedências mútuas não humilhantes. Foi assim com as reuniões que levaram ao texto do acordo ortográfico.
Parece que no início das reuniões o representante brasileiro disse que estava tudo em discussão excepto a questão das consoantes mudas. Realmente, alguém com dois dedos de testa acreditaria que os brasileiros depois de décadas a escrever ata ou adotar iam aceitar as grafias acta e adoptar?
Em próximos artigos continuaremos a examinar esta questão das consoantes mudas.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves
Quinta-feira, 8 de Setembro de 2005
Através do Decreto-Lei 32/73, de 6 de Fevereiro de 1973, o governo de Marcelo Caetano, último primeiro-ministo antes da revolução do 25 de Abril, eliminou os acentos em palavras como pràticamente, cortêsmente, cafèzinho e avôzinho.
Se bem me lembro, esta mudança de ortografia teve efeito a partir do primeiro dia de 1974, já perto do fim do regime político de então. Caminhava 1973 para o fim quando li no extinto Diário Popular notícias da nova ortografia. Não me recordo de quaisquer objecções a esta mudança.
Li em publicações, não me lembro quais, que Marcelo tinha planos para novas alterações ortográficas, estas bem mais profundas. Tais fontes de informação eram dignas de todo o crédito. Tenho quase a certeza da verdade das suas informações. De qualquer modo, devo dá-las com alguma reserva.
Marcelo Caetano teria, segundo essas fontes, a intenção de eliminar os cês e o pês não pronunciados em palavras como óptimo ou actor, que passariam a escrever-se ótimo e ator, ortografias há muito usadas no Brasil.
Marcelo já disporia dum parecer de linguístas referente a esta supressão de consoantes mudas. Só haveria objecções por parte do Prof. Costa Pimpão, da Universidade de Coimbra.
A partir de certa altura de 1973, Marcelo começou a ter preocupações com um movimento militar que haveria de levar à sua queda em 25 de Abril de 1974. Marcelo Caetano não chegou a ter tempo de impor novas alterações ortográficas.
Ainda hoje escrevemos actuar, uma coisa bem tola, porque o c nem se lê nem abre a pronúncia do a. Que pena que Marcelo não tenha eliminado as consoantes mudas. Ter-se-ia evitado posteriormente tanta polémica estéril.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves
Quarta-feira, 7 de Setembro de 2005
A Base III do acordo ortográfico não altera nada. Por isso, passamos à base seguinte, que contém matéria para muita discussão e estabelece regras de pôr em pé os cabelos a pessoas pouco amigas de mudanças.
A Base IV começa por tratar das sequências cc, como em friccionar, cç como em ficção, ct como em pacto, pç como em opção e pt como em apto.
Em todos os exemplos a primeira consoante pronuncia-se em todas as pronúncias cultas da língua e, por isso, conserva-se. Aliás, nem de outra maneira poderia ser.
Há casos em que a primeira consoante não se pronuncia em nenhuma pronúncia culta da língua portuguesa. Nesse caso, essa segunda consoante é sempre eliminada. Assim, depois de entrar em vigor o acordo ortográfico, passaremos a escrever em Portugal acionar, ação, diretor, objeção e batismo. No Brasil não existe mudança já que há décadas se usam essas grafias.
É melhor parar aqui porque o que fica escrito já é de tirar a vontade de viver a muita gente.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves
Terça-feira, 6 de Setembro de 2005
Sabia que já se escreveu hombro? Não tinha qualquer base etimológica esta ortografia porque a palavra vem do latim umeru. Há pessoas que, sem necessidade, complicam a língua. Então não é que houve no passado pessoas que puseram um agá no início da palavra é?
O agá é uma letra bem esquisita. Caiu em hespanhol, que vem do latim hispaniolu e deu lugar a espanhol. Também caiu em erva mas mantém-se em herbáceo. Permanece em palavras derivadas do latim por via culta ou erudita, o que é uma coisa que pouco interessa ao utilizador normal da língua e leva a faltas de lógica como é existirem com o mesmo significado as palavras ervanário e herbanário.
Numa rádio local foi há anos dito que o saramago é uma erva herbácea. A frase é tola, mas mostra bem as incoerências do uso do agá no princípio de palavras.
Quase de certeza o agá se continuará a usar no início de muita palavra portuguesa ao longo dos séculos. Não há coragem nem vontade para o eliminar.
Os italianos escrevem umanità (humanidade), umore (humor), uomo (homem), omocida (homicida) e igiene (higiene). Em italiano muito poucas palavras começam por agá e são todas ou quase todas de origem estrangeira. Se o português seguisse pelo mesmo caminho, talvez estranhássemos a princípio, mas, passado pouco tempo, não sentiríamos nenhuma falta. Se o agá é desnecessário em desumano, não pode ser eliminado em humano? Faz alguma falta em espanhol? Alguém gostaria que se voltasse a escrever hespanhol?
Imaginem que alguém propunha a eliminação do agá inicial. Cairia o Carmo e a Trindade. As pequenas alterações introduzidas pelo acordo ortográfico provocaram reacções violentas. Até houve quem, muito a sério, invocasse a constituição por achar que a ortografia faz parte do património da nação. Santo Deus! Acham que a constituição se deve preocupar com assuntos como a ortografia?
Os brasileiros eliminaram certas consoantes surdas em palavras como baptismo ou actor, mas relativamente ao agá inicial têm sido atentos, veneradores e obrigados. Que eu saiba, nesse aspecto só diferem de Portugal na palavra húmido e seus derivados. No outro lado do Atlântico escrevem úmido, umidade, umidificar, etc mas escrevem, como nós, hora, horta, hemisfério e hélio.
O acordo ortográfico não mexeu no agá inicial, que permanece intocável. Faz lembrar as vacas sagradas da Índia. Como são sagradas, não podem ser incomodadas mesmo que se deitem na rua e obstruam o trânsito.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves
Segunda-feira, 5 de Setembro de 2005
A Base II do acordo ortográfico chama-se Do h inicial e final. Trata do uso da letra h fora dos dígrafos ch, lh e nh.
Diz o acordo que o h inicial emprega-se:
a) Por força da etimologia em palavras como haver, do latim habere, ou homem, do latim homine
b) Sem qualquer razão etimológica, por simples convenção: hã?, hem?, hum!.
Há palavras que, se atendêssemos à sua etimologia, começariam por h, mas a supressão desta letra vem de há muito tempo. É o caso de erva, do latim herba, e seus derivados: ervaçal, ervanário, ervoso. Mantém-se a supressão com o acordo ortográfico. Era só que faltava escrever tais palavras com um h no início!
Da mesma raiz latina que erva temos herbáceo, herbanário, herboso. Trata-se de formas de origem erudita que mantêm o h.
Que alterações introduz a Base II? Nenhumas para alegria dos conservadores ortográficos.
Voltaremos ao h. Há muita coisa interessante a dizer sobre essa estranha letra.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves
Domingo, 4 de Setembro de 2005
O acordo ortográfico estabelece na sua Base I regras para nomes hebraicos da tradição bíblica terminados em ch, ph e th, como Baruch, Loth, Moloch e Ziph. Diz o acordo que os dígrafos finais destes nomes - ch, ph e th - podem conservar-se ou simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Como resultado temos mais algumas grafias alternativas. Pode, no entanto, perguntar-se se se justifica a manutenção duma grafia como Ziph. Será que alguém ainda a usa?
Recorde-se que dígrafo é um conjunto de duas letras que representam um único som.
Diz mais o acordo que, se qualquer um destes dígrafos em formas do mesmo tipo é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e, se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith. O comentário que apetece fazer é que esta regra parece desnecessária, pois há muitos, muitos anos escrevemos José, Nazaré e Judite. Já quase se perdeu a noção de estes nomes provirem da Bíblia.
Com este artigo termina a análise da Base I do acordo ortográfico. Vejamos os seus pontos mais importantes:
-Constituição do alfabeto português
-Casos em que se usam as letras K, W e Y
-Regras para a formação de vocábulos derivados de nomes próprios estrangeiros
-Regras referentes a nomes bíblicos
-Recomendações quanto ao aportuguesamento de nomes de topónimos (nomes de locais) estrangeiros.
Autor do artigo: João Manuel Maia Alves