Segunda-feira, 31 de Outubro de 2005
Vejamos as principais alterações introduzidas pelo acordo ortográfico já tratadas nos artigos anteriores.
-- Supressão de consoantes mudas --
São eliminados cês e pês não pronunciados. Exemplos: exato, reto, batismo, Egito. No Brasil a eliminação ocorreu há décadas.
-- Grafias duplas de palavras com consoantes de pronúncia oscilante --
Esta norma afecta principalmente cês e pês que umas vezes se lêem e outras não. Como exemplos de ortografias duplas temos aspeto e aspecto, facto e fato, cato e cacto, omnipotente e onipotente.
-- Palavras graves com o ditongo ei na sílaba tónica
O e não leva acento se for aberto. Exemplo: ideia em vez de idéia. O acento só é eliminado no Brasil porque nos outros países já não se usa.
-- Palavras graves com o ditongo oi na sílaba tónica
O o não leva acento se for aberto. Exemplo: boia em vez de bóia.
-- Palavras terminadas em ôo
Eliminado o acento. Exemplo: enjoo em vez de enjôo. Só no Brasil o acento é eliminado pelo acordo. Nos outros países já não é usado.
-- Ortografias duplas para algumas (poucas) palavras graves e agudas
São exemplo ténis e tênis, fénix e fênix, guiché e guichê
Domingo, 30 de Outubro de 2005
Existem algumas (poucas) palavras agudas ou oxítonas terminadas em e e o com pronúncias ora abertas ora fechadas. Recorde-se que palavras agudas ou oxítonas são as que têm acento tónico na última sílaba, como, por exemplo, café. Essas palavras de pronúnca oscilante vêm, em geral, do francês. Poderão escrever-se com acento agudo ou circunflexo. São exemplos croché e crochê, bebé e bebê, guiché e guichê. São igualmente admitidas formas como judo a par de judô e metro, no sentido de metropolitano, a par de metrô. Os pares de cada uma destas formas têm o acento tónico em sílabas diferentes.
Falemos agora de palavras graves ou paroxítonas, isto é com o acento tónico na penúltima sílaba. No começo do século XX o dicionário de Cândido de Oliveira, registava a ortografia tênis. Acabou por não vingar em Portugal, mas é a que se usa no Brasil. Para um pequeno número de palavras graves com oscilacões de pronúncia o acordo prevê ortografias duplas. São exemplos ténis e tênis, bónus e bônus, Vénus e Vênus.
Os ditongos oi e ei em sílaba tónica de palavras graves não levam acento. Intróito passa a introito, bóia passa a boia. Os brasileiros deixam de pôr acento em palavras como idéia ou assembléia, as quais em Portugal não são acentuadas há muito tempo.
Esta regra é muito importante. Nas pronúncias cultas da língua os referidos ditongos têm oscilações de pronúncia. Os brasileiros acentuam o ditongo ei quando é aberto. Não haveria grande problema em palavras como idéia e assembléia. O pior é que no Brasil o ditongo ei de europeia é aberto e, por isso, de acordo com as suas regras actuais, os brasileiros escrevem européia, pondo um acento agudo numa vogal que para outros falantes do português é fechada. Igualmente escrevem Coréia. Passarão a escrever Coreia, continuando a pronunciar a palavra como actualmente.
Em Portugal, dezoito é dezôito no norte e dezóito no sul. Comboio e dezoito já não levam acento por causa de o ditongo oi ser aberto para uns e fechado para outros. O acordo vai mais longe e, eliminando alguns acentos, acaba com divergências ortográficas, algumas graves. O Brasil elimina mais acentos que Portugal.
No Brasil escrevem enjôo e vôo. Deixarão de usar o acento circunflexo. Não se vê a necessidade deste acento. Desaparecerá, assim, mais uma divergência.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Existem algumas (poucas) palavras agudas ou oxítonas terminadas em e e o com pronúncias ora abertas ora fechadas. Recorde-se que palavras agudas ou oxítonas são as que têm acento tónico na última sílaba, como, por exemplo, café. Essas palavras de pronúnca oscilante vêm, em geral, do francês. Poderão escrever-se com acento agudo ou circunflexo. São exemplos croché e crochê, bebé e bebê, guiché e guichê. São igualmente admitidas formas como judo a par de judô e metro, no sentido de metropolitano, a par de metrô. Os pares de cada uma destas formas têm o acento tónico em sílabas diferentes.
Falemos agora de palavras graves ou paroxítonas, isto é com o acento tónico na penúltima sílaba.
No começo do século XX o dicionário de Cândido de Oliveira, registava a ortografia tênis. Acabou por não vingar em Portugal, mas é a que se usa no Brasil. Para um pequeno número de palavras graves com oscilacões de pronúncia o acordo prevê ortografias duplas. São exemplos: ténis e tênis, bónus e bônus, Vénus e Vênus.
Os ditongos oi e ei em sílaba tónica de palavras graves não levam acento. Intróito passa a introito, bóia passa a boia. Os brasileiros deixam de pôr acento em palavras como idéia ou assembléia, as quais em Portugal não são acentuadas há muito tempo.
Esta regra é muito importante. Nas pronúncias cultas da língua os referidos ditongos têm oscilações de pronúncia. Os brasileiros acentuam o ditongo ei quando é aberto. Não haveria grande problema em palavras como idéia e assembléia. O pior é que no Brasil o ditongo ei de europeia é aberto e, por isso, de acordo com as suas regras actuais, os brasileiros escrevem européia, pondo um acento agudo numa vogal que para outros falantes do português é fechada. Igualmente escrevem Coréia. Passarão a escrever Coreia, continuando a pronunciar a palavra como actualmente.
Em Portugal, dezoito é dezôito no norte e dezóito no sul. Comboio e dezoito já não levam acento por causa de o ditongo oi ser aberto para uns e fechado para outros. O acordo vai mais longe e, eliminando alguns acentos, acaba com divergências ortográficas, algumas graves. O Brasil elimina mais acentos que Portugal.
No Brasil escrevem enjôo e vôo. Deixarão de usar o acento circunflexo. Não se vê a necessidade deste acento. Desaparecerá, assim, mais uma divergência.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Em artigos anteriores temos vindo a falar das sequências cc (segundo c com som ç), pc (segundo c com som ç), ct, cç, pç e pt em que a primeira consoante umas vezes se pronuncia outras não. O essencial já foi dito. Acrescentemos só mais dois pontos.
Facto como se escreverá de futuro? Andaram para aí os profetas da desgraça a dizer que se escreveria fato. Isto é um disparate. Em Portugal pronunciamos fakto, logo escreveremos facto. Os brasileiros não pronunciam o cê, logo não o escreverão. É exactamente o contrário do que acontecerá com cacto, em que o que o cê se pronuncia lá e é mudo cá. Por isso, se escreverá cacto no Brasil e cato em Portugal.
O desaparecimento dum pê obriga um eme anterior a passar a ene. Assi, por exemplo, a ortografia variante de peremptório é perentório.
Existem outras sequências de duas consoantes em que a primeira umas vezes se lê e outras não. Como era de esperar, o acordo ortográfico estabelece ortografias duplas para estes casos. Vejamos quais são estas sequências e apresentemos exemplos de cada uma delas:
-- Sequência bd: súbdito e súdito
-- Sequência bt: subtil e sutil
-- Sequência gd: amígdala e amídala
-- Sequência mn: omnipotente e onipotente, amnistia e anistia, indemnização" e indenização
-- Sequência tm: aritmética e arimética
Em todos os exemplos apontados a primeira consoante pronuncia-se em Portugal, mas no passado nem sempre assim foi.
Como se sabe, há na língua portuguesa palavras que vieram do latim por via culta e outras que recebemos por via popular. São exemplosherbanário e ervanário.
As palavras destas sequências sem a primeira consoante, ou muitas delas, são mais antigas e introduziram-se em Portugal por via popular. Encontram-se em escritores dos séculos XVI e XVII. Não há razão para afirmar que há nestas sequências ortografias mais correctas que outras. Seria como escolher o mais correcto entre ervanário e herbanário. Existem ortografias que variam de uso com o país, o que é uma coisa diferente.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Sábado, 29 de Outubro de 2005
Continuemos a falar das sequências cc (segundo c com som ç), pc (segundo c com som ç), ct, cç, pç e pt em que a primeira consoante umas vezes se pronuncia outras não.
O acordo ortográfico estabelece para estas sequências ortografias duplas. Assim por exemplo, teremos as ortografias aspeto e aspecto. A primeira será usada por quem não pronuncia o cê, o que é o caso dos portugueses e de muitos brasileiros. A segunda será utilizada por quem pronuncia o cê, o que se passa com a maioria dos brasileiros.
Esta regra do acordo irrita muita gente que não gosta de ortografias duplas. O Prof Freitas do Amaral perguntou onde estava a unificação.
O que se rebelam contra as ortografias duplas resultantes do acordo não reparam que já existem dezenas dezenas, repito de ortografias duplas. São exemplos ámen e amém, de que falámos em artigo anterior. Cálix (pronunciado cális) e cálice, bêbado e bêbedo, rotura e ruptura são outros.
Quanto à unificação, preocupação de Freitas do Amaral, não está escrito em nenhuma parte do acordo ortográfico que ele visa uma total uniformização. Aliás, ela já não existe hoje.
Por que razão aspecto se escreve em Portugal com um cê. Por vir do latim aspectu? Não, porque, se fôssemos atender à ortografia, então teríamos de escrever aflicto e diccionário. Por causa da pronúncia? Também não. Por coerência com alguma palavra derivada em que o cê se justificaria recordemos reto e rectângulo? Não, porque não tem palavras derivadas. A razão é que no Brasil existem pessoas que dizem aspekto.
Teria alguma lógica abolir aquelas consoantes que nunca se lêem o que já devia ter acontecido há muito - e manter sempre aquelas que se pronunciam algumas vezes e outras não? Nenhuma. Obrigaria a ser enciclopédico. Faz lembrar o tempo em que toda se escrevia tôda porque existe toda com o aberto para designar um pássaro da América do Sul.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Sexta-feira, 28 de Outubro de 2005
Continuemos a falar das sequências cc (segundo c com som ç), pc (segundo c com som ç), ct, cç, pç e pt em que a primeira consoante umas vezes se pronuncia outras não.
O acordo ortográfico estabelece que em tais sequências a primeira letra se pode manter ou eliminar. Vamos exemplificar a aplicação desta regra.
O cê de cacto não se pronuncia em Portugal, ao contrário do que sucede no Brasil. Então existirão as duas ortografias cato e cacto. No Brasil escrever-se-á cacto. Em Portugal escreveremos cato. Em aspecto o cê é mudo em Portugal; no Brasil umas vezes pronuncia-se e outras não. Então haverá as ortografias aspeto e aspecto. A primeira será usada em Portugal; ambas se usarão no Brasil. Haverá assim ortografias duplas para estas sequências com oscilações de pronúncia cato/cacto, aspeto/aspecto, fato/facto, receção/recepção, excecional/excepcional, etc.
A nota explicativa do acordo diz que os dicionários registarão estas ortografias duplas, além de esclarecer sobre o alcance geográfico e social da oscilação de pronúncia.
No passado fez-se muito barulho sobre estas disposições desnecessária e injustificadamente, na minha opinião. Havemos de examinar as críticas em futuros artigos.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2005
Continuemos a falar das sequências cc (segundo c com som ç), pc (segundo c com som ç), ct, cç, pç e pt em que a primeira consoante umas vezes se pronuncia outras não.
--- Diferenças entre Portugal e Brasil ---
Há palavras com as sequências em causa em que a primeira consoante não se pronuncia em Portugal e o contrário sucede no Brasil. São exemplos acepção, recepção, concepção e cacto.
Noutras palavras a primeira consoante é muda em Portugal, mas umas vezes lê-se no Brasil e outras não. São exemplos excepcional, infecção e aspecto. No Brasil a estas variações de pronúncia correspondem ortografias duplas aspeto e aspecto, por exemplo.
Existem casos em que a primeira letra se pronuncia em Portugal e em que ora se pronuncia, ora é muda no Brasil. Serve de exemplo secção.
O mais habitual nestas sequências variáveis é uma consoante ser muda em Portugal e pronunciar-se, sempre ou às vezes, no Brasil, mas existe uma excepção bem conhecida facto, que no Brasil se diz fato.
Que é que o acordo estabelece quanto à ortografia destas sequências variáveis? Veremos em próximo artigo, mas deve notar-se para já o seguinte. Há pessoas que pensam que em vez de facto vamos passar a escrever fato. Conheci um director de jornal, o Dr. Fausto Lopo de Carvalho, uma pessoa culta com livros publicados, que acreditava em tal disparate. Foi a Drª Edite Estrela que lhe explicou que estava mal informado, para alívio do homem, que vivia angustiado e irritado com a ideia de escrever fato e dizer facto. De vez em quando, aparecem pessoas com pretensões a intelectuais a insistir no mesmo erro e a mostrar a sua revolta. Deviam estar revoltados mas era contra a sua ignorância e a exibição que dela fazem.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Continuemos a falar das sequências cc (segundo c com som ç), pc (segundo c com som ç), ct, cç, pç e pt em que a primeira consoante umas vezes se pronuncia outras não.
---Variações em Portugal ---
É muito mais fácil saber as variações de pronúncia da primeira letra destas sequências no Brasil do que em Portugal. Vejamos porquê.
Se procurarmos num dicionário editado no Brasil a palavra infecção, ficamos a saber o que ela significa e que tem a variante infeção. Se procurarmos infeção, o dicionário simplesmente informa tratar-se duma variante de infecção. Ficamos assim a saber que no Brasil existem as pronúncias infèkção e infèção, sendo mais habitual a primeira.
Como no Brasil, as variações de pronúncia da primeira letra correspondem a ortografias duplas, os dicionaristas sabem há décadas exactamente que letras são lidas e os seus leitores são correctamente informados. Agora procure-se artefacto no dicionário da Porto Editora. Não dá qualquer indicação de pronúncia. Ficamos sem saber se o cê se lê sempre, se nunca se lê ou se se lê às vezes.
O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, conhecido como o dicionário da Academia, dá a pronúncia das palavras. Sem tirar o mérito a tal obra, merecem muitas reservas algumas pronúncias fornecidas. Dá quase sempre uma só pronúncia para cada palavra, a qual correspondente à usada por pessoas cultas de Lisboa e centro do país, como se Portugal só constasse de Lisboa e Coimbra.
O Dicionário da Academia dá para intersecção a pronúncia intersèkção, que eu nunca ouvi. Para jacto dá a pronúncia jakto. A verdade é que muita gente diz jato. Mesmo tomando Lisboa e Coimbra por modelo, estas pronúncias merecem muitas reservas.
A Dra. Edite Estrela diz ter dúvidas sobre as pronúncias usadas em Portugal para muitas palavras com as sequências em causa.
Com as devidas reservas aqui vão algumas palavras na ortografia portuguesa actual em que o cê da sequência ct umas vezes se pronuncia em Portugal e outras não: jacto, espectador, caracteres, característico, dactilografia. Para outras sequências não me ocorrem variações em Portugal.
Artigo escrito por João Manuel Maia Alves
Terça-feira, 25 de Outubro de 2005
Continuemos a falar das sequências cc (segundo c com som ç), pc (segundo c com som ç), ct, cç, pç e pt em que a primeira letra umas vezes se pronuncia e outras não.
As variacões de pronúncia dão-se dentro do mesmo país e de país para país.
As análises efectuadas incidem entre as pronúncias de Portugal e Brasil. Tal não se deve a menos consideração por outros países, mas por falta de elementos seguros. No entanto, pode-se dizer que, duma maneira geral, o que é verdadeiro nesta matéria para Portugal aplica-se aos países africanos de língua portuguesa e a Timor.
---Variações no Brasil ---
A palavra que em Portugal escrevemos aspecto tem duas pronúncias no Brasil aspekto e aspeto. A primeira pronúncia é a mais habitual. Em livros editados no Brasil podemos encontrar as grafias aspecto e aspeto. No Brasil existem ortografias duplas para estas sequências variáveis. Não se trata de nada que nos deva espantar porque em Portugal temos dezenas de ortografias duplas cociente e quociente são exemplos.
Outros exemplos de variações no Brasil são: infecção e infeção, excepcional e excecional, contato e contacto, tato e tacto, teto e tecto, seção e secção, facção e fação, dicção e dição, caracteres e carateres, característica e caraterística. A primeira ortografia de cada um dos pares corresponde à pronúncia mais habitual no Brasil.
No Brasil existem excepcional e excecional, sendo mais habitual a primeira grafia. Excepção é grafia inexistente. Só exceção lido excèção - se encontra.
A palavra seção pronunciada sèção não deve supreender. Pertence à família da palavra que em Portugal escrevemos intersecção e pronunciamos intersèção.
João Manuel Maia Alves
Segunda-feira, 24 de Outubro de 2005
Já vimos o tratamento que o acordo ortográfico dá às sequências cc (segundo c com som ç), cç, ct, pç e pt em que a primeira letra não se pronuncia em nenhuma pronúncia culta da língua. Nesses casos a primeira letra não se escreve. Assim, em Portugal passaremos a escrever afecto em vez de afeto. Para os brasileiros não haverá alteração, pois não escrevem essas consoantes mudas há mais de setenta anos.
Em antigos anteriores mostrámos que não existe qualquer razão para manter essas consoantes que não se pronunciam. Em muitos casos a consoante é completamente tola. É o caso do cê de acto. Não faz falta à pronúncia. Não se justifica por razões etimológicas ou de origem da palavra não é verdade que se eliminou o cê de aflicto? O cê de acto existe por coerência com actuar e actuação, mas haverá alguma coisa mais tola que o cê destas palavras, que nem se pronuncia nem abre a vogal colocada antes? Só por caturrice é que alguém medianamente informado defende o cê de acto, mas caturras, ilustres ou não, é coisa que não falta em questões de ortografia.
A questão é mais complicada quando a primeira letra das referidas sequências umas vezes se lê e outras não, caso em que falamos de sequências variáveis. Veremos em próximos artigos como o acordo resolveu esta questão.
João Manuel Maia Alves