Terça-feira, 1 de Novembro de 2005
Por que razão se coloca um acento agudo sobre um a? Umas vezes para o abrir, como em pá. Outras vezes, o acento, além de abrir o a, indica que a sílaba é tónica. É o caso de rápido. Vamos recordar que o acento agudo ainda tem outra função.
Sem fugir ao tema, qual o tempo de fugimos? Depende. Pode ser o presente, como em fugimos agora antes que seja tarde. Pode ser o passado, como em fugimos há pouco dum incêndio. Se se tratar dum verbo terminado em ar, como andar, a distinção de tempo das formas correspondentes a fugimos, faz-se por meio dum acento agudo. Escrevemos, por exemplo, hoje andamos aqui a trabalhar e ontem andámos dez quilómetros a pé.
O acento agudo em palavras como andámos, viajámos, conversámos nem sempre abre o respectivo a. Realmente, existem zonas de Portugal onde as pessoas dizem frases do género ontem andâmos dez quilómetros a pé. Basta ouvir com atenção na televisão pessoas do norte de Portugal para vermos que assim é. Quer dizer, estas pessoas são obrigadas a pôr um acento agudo num a que tem uma pronúncia fechada!
Querem apostar que se nestes casos o a fosse fechado em Lisboa e Coimbra e aberto no Porto, o acento não se usava? Onde estão ou estavam as pessoas que têm decidido estas coisas? Em Lisboa e em Coimbra, considerando-se o modelo a seguir pelas pessoas das outras regiões.
Na minha opinião este acento é horroroso. Dizer andâmos e ter de escrever andámos acho uma imposição insuportável.
No Brasil este a da primeira pessoa do plural dos verbos terminados em ar é fechado como no norte de Portugal. Nota-se bem nas telenovelas. Não sei se é sempre fechado, mas nunca ouvi um brasileiro abri-lo. Na ortografia usada no Brasil o a não leva nenhum acento.
Os negociadores do acordo ortográfico resolveram esta questão tornando o acento agudo facultativo nestes casos. Talvez ele devesse simplesmente desaparecer, mas ter deixado de ser obrigatório em Portugal foi, na minha opinião, um progresso. Foi, a meu ver, o fim duma injustificada imposição.
Autor deste artigo: João Manuel Maia Alves