Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2006
Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
O que acabam de ler é a primeira regra do hífen no texto do acordo ortográfico. É difícil de perceber. Por exemplo, o que é uma unidade sintagmática e semântica? Não admira que muita gente odeie o acordo ortográfico e gramáticas em geral. Lêem uma regra como esta, não a percebem e não querem mais nada com o assunto.
Haveremos de traduzir este texto obscuro em linguagem mais simples.
Como já foi dito, o acordo está redigido na ortografia que ele próprio estabelece. Essa a razão de, por exemplo, guarda-noturno em vez de guarda-nocturno na regra que se transcreveu.
João Manuel Maia Alves
Quarta-feira, 18 de Janeiro de 2006
Estabelece o acordo ortográfico que o hífen se usa na tmese. Que diabo de coisa vem a ser a tmese?
Reparemos na palavra ver-te-ei. Abriu-se um buraco no meio de verei e meteu-se nele o pronome te. O te fica ensanduichado, entre duas metades de verei. Temos aqui um exemplo de tmese, a intercalação de formas pronominais em formas verbais.
Qual a necessidade de se falar em tmese? Não bastava dizer que o hífen se usa em palavras como amá-lo-ei e enviar-lhe-emos? Não apregoa este blogue o não uso de termos complicados?
Na devida altura será fornecido o texto do acordo ortográfico e da sua nota explicativa ou se dirá onde se podem obter. Este blogue dará até lá o significado de termos técnicos usados nos dois textos, como é o caso de tmese para que os leitores os possam compreender.
Outro termo usado no texto do acordo a propósito do hífen é ênclise. Amá-lo, que se pronuncia amalo, é um exemplo de ênclise. Lo, que é átono, isto é, sem acento tónico, junta-se na pronúncia a amá. Outros exemplos são dá-se, deixa-o e partir-lhe. Cada um destes pares forma um todo em termos de pronúncia. Os espanhóis não usam hífen em casos semelhantes. Mais práticos que nós, escrevem servirle e darme, por exemplo.
Reparemos nas frases ele quer o livro; ele quere-o para estudar inglês, ele requer o adiamento, ele requere-o amanhã. O hífen usa-se nos casos em que existe ênclise, isto é ligação na pronúncia à palavra anterior, mas acrescenta-se um e no fim do verbo. Em ele quere-o para estudar inglês a pronúncia de quere-o é kéreo, o que justifica o e final da forma verbal.
Usa-se também o hífen em palavras como eis-me e ei-lo e formas pronominais do tipo no-lo, vo-las, como, por exemplo em esperamos que no-lo comprem.
Estas regras não alteram nenhuma disposição da ortografia em vigor.
João Manuel Maia Alves
Terça-feira, 10 de Janeiro de 2006
Relativamente ao hífen o acordo ortográfico estabelece regras numerosas e extensas, algumas escritas em linguagem difícel de entender. Vamos dar essas regras, não necessariamente pela ordem em que são apresentadas no texto do acordo e em linguagem o mais simples possível.
Uma das regras é que não se usará empregará o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver. Por outras palavras em vez de hei-de, hás-de, há-de,hão-de passaremos a escrever hei de, hás de, há de,hão de.
No hino nacional português há um hífen que desaparece. Recordemos estes versos: Entre as brumas da memória,/Ó Pátria, sente-se a voz/Dos teus egrégios avós /Que há-de guiar-te à vitória! darão lugar a Entre as brumas da memória,/Ó Pátria, sente-se a voz/Dos teus egrégios avós/Que há de guiar-te à vitória! . No último verso há um há-de. Ocorre uma separação e ficamos com há de. Não é por isso que os avós deixam de ser egrégios nem a vitória se torna mais difícil ou menos certa, mas os conservadores linguísticos ficarão desgostosos.
Esta regra é capaz de indispor muita gente, mas examinemos a questão fria e racionalmente. Reparemos nas duas frases seguintes, escrita na actual ortografia portuguesa: ele há-de tudo fazer e aqui há de tudo para vender. Na pronúncia destas frases o primeiro há está mais ligado à preposição de que o segundo?A resposta é não e, por consequência, o hífen da primeira frase não se justifica, como não se justificaria escrever havemos-de.
Reparemos na frase hei-de ler. A pronúncia está mais perto de hei d ler do que de heide ler. Se tivesse que haver um hífen na frase, seria mais lógico ele ligar de a ler, escrevendo-se hei de-ler. Esta ligação mais forte à palavra colocada depois da preposição de é apontada na nota explicativa do acordo como uma razão para abolir o hífen nas palavras indicadas.
No Brasil já não se usa o hífen nas palavras apontadas, mas não é só por isso que se justifica a sua eliminação. Ele não tem qualquer utilidade ou justificação. É muito bem abolido.
Fiquemos por aqui. As regras do hífen têm de ser fornecidas em doses pequenas para não causarem indigestão.
João Manuel Maia Alves