Terça-feira, 21 de Fevereiro de 2006
Continuemos a ver o que o acordo ortográfico estabelece quanto ao uso do hífen.
Existem nomes de plantas e animais que são palavras compostas. Às vezes têm um elemento de ligação como uma preposição ou um pronome. Tais nomes escrevem-se com hífen. O texto do acordo dá os seguintes exemplos: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).
Repare-se que se escreve bem-me-quer e malmequer. O hífen é realmente algo de complicado em português. Não admira que a Drª Edite Estrela graceje dizendo que, às vezes, tem que consultar os livros que escreveu para saber usar correctamente o hífen.
O projecto de acordo de 1986 introduzia alterações radicais no uso do hífen. Algumas grafias resultantes deste projecto eram algo estranhas por exemplo, bemequer em vez de bem-me-quer. Talvez se quisesse ir longe de mais em 1986, mas, se calhar, no texto que foi aprovado avançou-se pouco, muito menos do que era possível e desejável.
Num outro artigo faremos um balanço quanto ao hífen - veremos em que medida o acordo muda as regras do hífen e daremos uma vista de olhos ao que propunha o projecto de 1986, o qual indispôs muita gente até à medula.
É melhor ficar por aqui. O hífen tem que ser estudado em pequenas doses.
João Manuel Maia Alves
Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2006
Já examinámos o uso do hífen em termos como ano-luz, em que duas palavras se juntaram formando uma unidade com sentido próprio e mantendo cada uma a sua pronúncia.
Em certas palavras perdeu-se, de certo modo, a noção de serem compostas. Por isso, não têm hífen. São exemplos girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas e paraquedista.
Há topónimos (nomes de países, regiões, cidades, etc.) que se iniciam com as palavras grão ou grã. Escrevem-se com hífen: Grã-Bretanha, Grão-Pará.
Também se escrevem com hífen topónimos que começam com uma forma verbal:
Abre-Campo, Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes.
Escrevem-se com hífen topónimos com elementos separados por artigo:
Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos,Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes. O artigo tem de estar sozinho; não pode existir contraído com uma preposição.
Os outros topónimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta. Guiné-Bissau é excepção a esta regra.
É melhor ficarmos por aqui para não nos empanturrarmos com esta indigesta matéria.
João Manuel Maia Alves
Segunda-feira, 6 de Fevereiro de 2006
Reparemos na palavra ano-luz. É composta de duas palavras palavras ano e luz. Uma palavra é colocada depois de outra, conservando cada uma a sua vida própria. Diz-se que uma tal palavra é formada por justaposição.
Na palavra composta louva-a-deus, nome dum insecto, existe uma palavra de ligação. O mesmo acontece no nome da localidade Idanha-a-Nova. Pelo contrário, em ano-luz duas palavras são colocadas uma depois da outra, sem nenhuma outra a ligá-las.
A palavra ano-luz é composta de dois nomes ou substantivos. Os seus elementos são de naturaza nominal. Não é obrigatório que palavras de construção semelhante constem só de substantivos. Assim em amor-perfeito um elemento é nominal e o outro adjectival, isto é, trata-se dum adjectivo. Em primeiro-sargento o primeiro elemento é de natureza numeral, o segundo é um substantivo. Em guarda-chuva existe uma forma verbal e um substantivo.
Há casos em que o primeiro elemento se apresenta reduzido. É o caso de és-sueste. És significa neste caso este.
Semântica é o estudo da significação das palavras e da evolução do seu sentido. Ano-luz significa a distância que a luz percorre durante um ano. A palavra tem um significado próprio. Constitui uma unidade semântica.
Não é fácil explicar o que é um sintagma. Para não complicar demasiado, basta-nos saber que, se houver uma combinação de palavras que se seguem e produzem sentido, temos um sintagma. Então, podemos dizer que ano-luz é uma unidade sintagmática.
Talvez agora se perceba melhor a norma do acordo ortográfico que se segue.
Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
A grafia noturno deve-se a que o acordo ortográfico está redigido com a ortografia que ele estabelece.
João Manuel Maia Alves